Com a palavra David Lewis, para Reuters, em 30/07/2004
CENÁRIO MUSICAL CONGOLÊS
Papa Wemba foi membro de destaque do dinâmico cenário musical congolês nos anos 1970, antes de mudar-se para a Europa, onde fez nome fundindo os ritmos africanos tradicionais com música pop, gravando discos e fazendo turnês em todo o mundo.
Embora viva na Europa há quase duas décadas, ele volta sempre ao Congo e mantém vínculos fortes com seu país, onde, durante os anos de sofrimento da população, sempre foi visto pelos jovens como símbolo da possibilidade de escapar das dificuldades.
Num país cuja guerra mais recente terminou há apenas dois anos e deixou pelo menos 3 milhões de mortos, em sua maioria de fome e doenças, a culpa ou não de Papa Wemba não parece ter grande importância. Ele continua a ser visto como herói, de qualquer maneira.
"Mesmo que ele tenha feito aquilo, isso mostra que ele ama o povo congolês. Pelo menos ele é patriota e tenta ajudar o povo", disse um camelô em Matonge, o bairro de Kinshasa onde Papa Wemba cresceu.
ÍCONE POPULAR
Numa época em que a população despreza os líderes que os fizeram sofrer anos de ditadura, guerra civil e uma difícil transição para a democracia, Papa Wemba é um ícone popular.
Nas ruas empoeiradas e decadentes de Matenge se espalham faixas dando as boas-vindas ao herói.
Foi ali que Papa Wemba cresceu, e, apesar de sua fama e riqueza, é para lá que ele sempre retorna, dizem os moradores do bairro.
"Mesmo quando ele estava preso, ele escrevia para mim. Papa Wemba nunca perdeu o contato conosco", conta Gele Siasia, 51 anos, um vizinho desempregado que conta que jogava bola com o cantor quando os dois eram crianças e que ainda o vê como irmão mais velho.
PAPA WEMBA PARA PRESIDENTE
Os moradores dizem que ele ajuda a comunidade quando há problemas, dá apoio a atividades voltadas aos jovens e, em alguns casos, intervém quando o governo não consegue consertar ruas ou restabelecer o fornecimento de energia elétrica.
Alguns congoleses chegam a sugerir que a popularidade de Papa Wemba e o mau desempenho dos governantes justificariam a entrada do artista para a política.
Para outros, porém, ele já faz o suficiente: "Ele já é nosso líder, mas é principalmente músico, e preferimos que ele continue assim. Se fosse político, a gente nunca o veria", disse Siasia.
O "filho da nação" não é homem de medir suas palavras. Ele critica os empresários por ignorar os talentos nacionais e obrigar músicos jovens a lutar sozinhos para fazer seus nomes.
Mas Papa Wemba diz que não vai fazer campanha nas eleições marcadas para 2005.
"Precisamos ter essa eleição para podermos escolher nosso presidente", diz ele. "Mas eu nunca serei presidente. Estou contente com o lugar que ocupo."
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