segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Com a palavra Bruno Batista

Não vou tirar meu chapéu pra qualquer vagabundo *

Que o Egito Antigo foi uma das civilizações mais prodigiosas para a humanidade, disso não discorda ninguém. Curioso mesmo é constatar que, após milênios de evolução e escavações, após o escrutínio de arqueólogos e historiadores, o seu grande legado seja, talvez, o mais banal. Que me perdoe a Pirâmide de Quéops, o Templo de Karnak, as suntuosas esfinges e até os bacanais de Cleópatra mas, o que realmente fez a cabeça de homens e mulheres durante o ido dos tempos foi, sem o perdão do trocadilho, o chapéu.

Surgido por volta de 4000 a.C na terra dos faraós, o chapéu (ou como prevê o seu latim de origem “cappa”, peça para cobrir a cabeça) sobrevive a praticamente todos os momentos históricos. Seja nas coroas de reis e rainhas, nos elmos dos guerreiros, nas mitras papais, seja cobrindo a moleira de cangaceiros ou adornando socialites nas tardes de turfe, o fato é que esse adereço parece nunca sair de moda. E mais: se deixarem, ele vira o rei do pomar.

É o caso, por exemplo, do séc. XX que teve em Carlitos e sua indefectível cartola seu primeiro rosto. Depois veio a Grande Guerra e, com ela, o farfalhar dos quepes de soldados e bonezinhos de marinheiros (cada vez mais sós...). Então surgiu John Wayne e a era do faroeste, os capacetes dos astronautas da Apolo 11, heróis de HQs como Zorro e The Spirit, até chegar a ícones da música pop como Michael Jackson e The Edge. Entra década, sai década, e lá está ele, onipresente, atrevido, como um astro que não se contenta com a platéia e reinvidica seu lugar na ribalta da história.

Hoje em dia, no Brasil, chapéus de todos os matizes, formatos e cores povoam as ruas da Lapa no Rio de Janeiro, as baladas de São Paulo e, em São Luís, também dão as caras. Há para todos os gostos e necessidades. Há quem use como mero enfeite, outros pra disfarçar a ação do tempo, e há ainda aqueles que, mal orientados, usam pra tentar esconder, digamos, um constrangimento pessoal (pobres coitados, esquecem-se que são pontiagudas as marcas da traição...). Seja como for, quem usa sabe: o chapéu é um companheiro. É como um cigarro que não termina, uma cachaça que não embriaga e bem melhor que amigo fura-olho. E, salvo pra aquela deliciosa morena de cabelos cor de mel, chapéu não se tira pra seu ninguém. Assim mesmo, como já dizia o mestre Josias...

Nota: *Título extraído da canção Terra de Noel, de Josias Sobrinho

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