domingo, 15 de agosto de 2010

Com a palavra: Joãozinho Ribeiro

AVISO-PRÉVIO AO MINISTRO

(Joãozinho Ribeiro)

É quarta-feira, 11 de agosto, dia dos estudantes. Brasília amanheceu ensolarada, com previsão de níveis críticos para a umidade do ar. Atravesso a Ponte JK em direção a Esplanada dos Ministérios. Meu destino é o 4º andar, bloco B, gabinete do Ministro Juca Ferreira, onde serei mais tarde recebido pela diversidade dos sorrisos matinais das moças e rapazes que assessoram o titular da pasta federal da Cultura Brasileira. Com letras maiúsculas, sim senhor! Cultura hoje respeitada no mundo inteiro, e consolidada como questão central e estratégica no governo do Presidente Lula, sob a batuta magistral das gestões Gil e Juca; este último, eleito recentemente presidente do Comitê do Patrimônio Mundial da UNESCO.

Aguardo a chamada na fila dos despachos, convicto de não poder regressar ao Maranhão sem passar pelo ritual dos agradecimentos, e pela prestação de contas da missão que me foi confiada; até pelo respeito ao espaço reservado em sua disputada agenda ministerial para concluir o rito administrativo.

Finalmente, a porta do gabinete se escancara e relembro o momento em que me foi formulado, pessoalmente pelo ministro Juca, o convite para integrar a sua equipe, em meados de 2009. Convite que acabou se transformando numa extensa novela, constituída de muitos capítulos, até obter a minha cessão funcional do Ministério da Fazenda para o Ministério da Cultura.

O sorriso baiano recheado de cordialidade ainda é o mesmo, e toda possibilidade do ambiente ser contaminado por alguma nesga sombria de tristeza é terminantemente rechaçada. Minhas primeiras palavras são apropriadas pelo clima de simpatia instaurado. Nestes termos, não consigo perder a espiritualidade, nem a piada: “Ministro, vim lhe apresentar o meu aviso-prévio”. Ele sorri prazerosamente, quebrando toda e qualquer barreira protocolar entre nós.

Já num ambiente mais descontraído, na presença de boa parte de sua assessoria, vamos entabulando uma conversa afiada sobre o meu retorno ao Maranhão, justificado pela situação eleitoral e pelo compromisso histórico que mantenho, acima de todas as coisas, com a transformação política e social do meu Estado, submetido até hoje, sob muitos aspectos, às práticas coronelistas do século passado.

Falamos sobre o bom momento que vive a política cultural do país, sobre os grandes temas que se encontram no centro da agenda dos debates e do papel estratégico da cultura no meio de tudo isso; do muito que ainda temos de conquistar para transformar a política cultural, nos Estados e Municípios, em política pública de estado e não somente de governos passageiros.

É a vez de o ministro tecer elogios e agradecimentos sobre a nossa atuação no Ministério da Cultura, através da colaboração solidária em muitas frentes de trabalho que tivemos a oportunidade e a honra de contribuir; com destaque para a coordenação executiva da II Conferência Nacional de Cultura, com os debates sobre a reforma da Lei Rouanet, com a formulação do projeto de Modernização da Lei do Direito Autoral, com as relações federativas entre a União, Estados e Municípios, com as ações do Programa Mais Cultura etc. Muita coisa para apenas dez meses de ativa presença no Ministério.

Faz questão de enaltecer a importância da nossa gestão à frente da Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão, até hoje referência para a administração da cultura em muitos estados da República Federativa do Brasil. Afirma, com todas as letras, ter sido esse um dos fatores fundamentais que propiciaram a decisão de convidar-me para integrar a sua equipe no Ministério da Cultura e, mais recentemente, ter estendido o convite para ocupar a chefia do seu gabinete.

Manifesto, nesse momento, toda a minha gratidão e reverência a sua pessoa, por todos os embates que teve de travar na defesa intransigente da minha indicação para o cargo de Coordenador-Geral de Estratégias e Gestão de Ações da Secretaria de Articulação Institucional, a margem dos apadrinhamentos políticos e partidários, contrariando diretamente os interesses de setores oligárquicos da Província do Maranhão, que chegaram ao cúmulo de uma interpelação telefônica solicitando a minha cabeça.

É chegada a hora dos acenos e considerações finais. De cabeça erguida, assim como cheguei, saio do gabinete do ministro Juca que, cavalheirescamente, me acompanha até o corredor.

Já do lado de fora, encontro a figura simpática de outro grande artífice da minha convocação para o MinC, Alfredo Manevy, atual Secretário-Executivo do MinC. Abraçamo-nos efusivamente, como velhos irmãos, e o resto já é história e patrimônio das nossas humanidades.

Joãozinho Ribeiro
poeta/compositor

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